A fenda é nascer sem saber o que se é. Diante disso, o grande desafio é sair do em-si para o para-si, e posteriormente, sair do para-si e chegar em um para-outro. Isso significa que a mudança de para-si para o para-outro é uma abertura para a vida, visto que não se podem reduzir para si todas as medidas do mundo. A travessia até a chegada em um para-outro é um processo de ruptura e descobrimento. Neste contexto, é válido compreender como ocorre a passagem pelas fases de desenvolvimento, sob uma perspectiva de que o Eu é o Outro.
A criança, inicialmente, não se reconhece como um corpo, ela vai entendendo que seu corpo é uma unidade na medida em que vai crescendo. Sendo assim, quando ela se olha no espelho, ela não se reconhece. Tal estágio é nomeado de em-si. A partir disso, quando a criança se olha no espelho e ela se reconhece como uma unidade, a mentalidade dela vai girar em torno de um para-si, ou seja, ela sabe que tem um corpo e esse corpo passa a ser o centro de sua vivência.
Dessa forma, percebendo-se no espelho, o Eu coloca-se imaginariamente no mundo, na medida em que faz do Eu a sua Imagem. Neste sentido, o grande enrosco de nossas vidas é compreender que essa imagem não sou eu.
Sendo assim, a posição simbólica que me insiro é compartilhada no mundo, pois o outro está no mundo e eu tenho que reconhecê-lo como alguém diferente de mim, que não eu próprio.
Quando a criança enxerga o outro como uma unidade, assim como ela, que é autônomo, que possui vontades. Quando vejo o outro como algo que é diferente de mim, é como se estive sendo apresentado um novo mundo.
Assim, o outro é uma porta aberta para a vida e para mim mesmo, relaciono-me com o outro, algo que é diferente e estranho a mim, e me reconheço.
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